se é verdade que não é uma novidade o facto de muitos dos extremistas religiosos, em países em vias de desenvolvimento, emergirem de bairros onde se vive em condições subhumanas e onde as educações são duras e plenas de obstáculos, este filme é uma elegante descrição desse tipo de história.
o filme, realizado por nabil ayouch, e com o nome Horses of God na versão inglesa, conta a história, desde a infância ao crescimento, de quatro jovens amigos, residentes num dos mais duros bairros de barracas nos subúrbios de casablanca. sabendo à partida o final do filme, uma vez que os quatro jovens fizeram parte do esquadrão de bombistas suicidas nos mortíferos atentados de casablanca em 2003, nem por isso é menos interessante registar todos os passos, todas as feridas mal curadas que levam a um desfecho tão marcante.
achei especialmente impressionante que, apesar do duro que é crescer nestes lugares, sem qualquer esperança em relação ao futuro, a transformação da vida deste jovens de uma vida banal para o fanatismo religioso se tenha revelado um processo relativamente rápido, muito mais rápido do que imaginaria.
em resumo, um filme muito bem feito, sobre um assunto que nos devia preocupar a todos.
"I am actually dating my operative system"
"Are you falling in love with her?"
"I guess... does that make me a freak?"
"No, I think that's... no... I think anybody who falls in love is a freak"
creio que por mais que filmes como American Hustle ou Wolf of Wall Street (falarei deles em breve) sejam bons filmes, sobretudo na componente de entretenimento, se saltarmos uma ou décadas para a frente, Her, de spike jonze, não vai ser o filme mais premiado de 2013, mas vai ser, sem dúvida, um dos filmes da rara mão cheia que verdadeiramente fica. não é daqueles filmes a que se vai recorrer para preencher programação ao domingo à tarde, mas aposto que vai criar o seu culto, na onda dos Donnie Darkos ou Eternal Sunshine of the Spotless Minds desta vida. Her é um filme delicioso da concepção (brilhante argumento de spike jonze, mesmo sem a "ajuda" das duas mãos do não menos brilhante charlie kaufman) à execução (é notável como é possível que joaquin phoenix não esteja nomeado para o oscar de melhor actor), apresentando uma distopia que tem tanto de deliciosa como de assustadora, num futuro que não será tão distante como se possa pensar. james barrat, no seu livro "Our Final Invention: Artificial Intelligence and the End of the Human Era" prevê que possa faltar apenas cerca de uma década para que a inteligência artifical ultrapasse a inteligência humana. tudo isto faz de Her uma metáfora melancólica menos metafórica do que possa parecer. scarlett johansson tem um dos seus melhores papéis até hoje (sem aparecer um segundo no filme). em jeito de nota de rodapé, achei muito engraçado o paralelismo feito pelo sam van hallgren entre alguns pontos deste filme e Lost In Translation, o que mostra que o amor entre as pessoas tem tanto de partilha física como intelectual (a ironia da "coisa" é isso ter bastante a ver com este filme). em resumo, Her é um filme brilhante, digno de ser visto várias vezes, e se não saírem da sala de cinema a perguntar "quem somos, de onde vimos e para onde vamos?" talvez seja boa altura para repensar os vossos níveis de introspecção, ou, como se diz em linguagem moderna, actualizar o sistema operativo.
parece que é altura de começar a falar de alguns candidatos aos óscares, antes que os mais falados (nem por isso os mais acertados) prémios cheguem e se precipitem à nossa frente sem avisar. o meu principal disclaimer é que sou um fanático de qualquer coisa saída da imaginação e captada pelas lentes dos irmãos coen, o que me cria uma séria dificuldade em analisar com a devida objectividade qualquer pipoca que salte do seu maravilhoso balde. Inside Llewyn Davis é uma história baseada num período da vida do cantor dave van ronk, e da sua batalha para triunfar na cena musical da village dos anos 60. o humor negro dos coen está presente como sempre, ainda que seja curioso que neste filme pontifique bem mais a metade do "negro" que a do "humor", não porque não se registem as habituais tiradas geniais de ironia e/ou sarcasmo, mas sim porque o próprio ambiente do filme é propício a um certo cobertor de nuvens sobre as lutas do crescimento artístico. oscar isaac salta para a ribalta com um excelente papel e justin timberlake e carey mulligan dão luz ao cartaz sem comprometer. em resumo, tem aquilo a que fomos habituados, diálogos, fotografia, banda sonora, tudo no ponto. em termos de cinema os coen são aquela pessoa que nos vem aconchegar os lençóis quando estamos no limbo entre o dia e o sonho.
p.s.: é difícil agradar a gregos e a troianos, mas este filme não ter nomeações para os óscares de melhor filme (em época de nove ou dez nomeados) nem para melhor argumento adaptado, diz bem da "massa" de que as nomeações são feitas.
a recente eleição de Vertigo como o melhor filme de sempre (na já bastante discutida votação a cada dez anos da revista britânica Sight and Sound), se mais não for, teve o condão de trazer este fantástico filme de alfred hitchcock de novo à ribalta e até à exibição. a sua última edição, numa versão digital, com notável recuperação e afinação de som e imagem da película original, está actualmente em exibição em várias salas de cinema mundo fora. O que é sempre de aplaudir, uma vez que, por mais alta que seja a definição dos modernos televisores, não há melhor forma de ver e julgar um filme do que vê-lo no grande ecrã. embora, para os meus gostos, filmes como Psycho ou Rear Window sejam até obras melhores do mestre alfred, Vertigo não deixa de ser, de facto, um dos melhores filmes de sempre, pelo argumento, pela técnica inovadora utilizada, e pela mágica expressão do suspense, usada por um dos seus melhores domadores. uma história aparentemente simples nasce na reforma precoce de um detective policial (interpretado por james stewart) motivado por um grave problema de vertigem. segue-se o pedido de um amigo do detective para que este lhe faça o favor de seguir a sua mulher (kim novak), aparentemente afectada por problemas psiquiátricos, tudo apontando para algo do foro esquizofrénico, com influência da sua história pessoal e familiar. este é o ponto de partida para um filme que testa a inteligência, a atenção, e sobretudo a criatividade e perspicácia do espectador, guardando para o final o habitual twist hitchcockiano que torna todos os seus filmes deliciosos. este é um daqueles filmes que todos deviam ver anter de morrer. pelo menos duas vezes.
breve pausa nas minhas verborreias sobre filmes individuais para vos publicitar este artigo que escrevi para o Filmspot sobre as novas formas de ver cinema, tendo em conta a oferta existente no panorama audio-visual norte-americano.
o artigo pode ser sido lido aqui.
recomendo-vos o Filmspot como uma excelente referência, sendo um dos melhores sites portugueses para se manterem actualizados sobre as novidades da indústria cinematográfica e temas associados.
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